Não. Ele não é da equipe de censura do governo da China. Qi Lu é o cérebro que criou o buscador Bing, da Microsoft
CONECTADO
Fotografia feita com múltiplas exposições de Qi Lu na sede brasileira da Microsoft, em São Paulo. Ele é responsável pela estratégia on-line da empresa
Dois
anos atrás, o presidente da Microsoft, Steve Ballmer, foi procurar no
Yahoo!, ex-líder de buscas da internet, o executivo responsável pelo
serviço. O chinês Qi Lu, celebrado nas rodas de entusiastas de
programação e, nas palavras do próprio Ballmer, “o cara que mais entende
no mundo do negócio de buscas na internet”, era anunciado como chefe de
divisão de internet da Microsoft. A empresa acreditava que Qi Lu
ajudaria numa pretensa fusão do Yahoo! com a Microsoft, que acabou não
acontecendo. E, principalmente: ele seria o responsável por construir
uma ferramenta que colocasse a Microsoft em condições de briga com o
Google.
A resposta de Qi Lu foi o buscador Bing, lançado
em junho de 2009. O Bing usava estratégia quase oposta à do Google. No
lugar de uma página branca, com pouquíssimo texto e priorizando a caixa
de buscas, o Bing criou um site com fotos exuberantes e vários atalhos
para serviços, consultas de viagens etc. Seu mecanismo de busca inovou,
com tecnologias para achar resultados instantâneos, rastreando posts
recentes em redes sociais como o Twitter. Alguns recursos que o Google
foi obrigado a copiar. Por isso, foi eleito pela revista americana Fast Company como uma das 100 pessoas mais criativas de 2010.
A
briga com o gigante Google pode ter sido moldada para Qi Lu, um homem
acostumado a superar obstáculos. Ele nasceu em Xangai no início dos anos
60, em meio à Revolução Cultural chinesa. Por causa da perseguição da
ditadura, seus pais o mandaram ainda garoto para a casa do avô, na
província de Jiangsu. Lu passou sua infância num vilarejo habitado por
400 famílias, onde predominava a agricultura de subsistência. A figura
mais notável da comunidade era a professora. Uma única, que dava aula
para todos os alunos, independentemente da matéria e da série das
crianças. “A professora tinha status de rainha”, afirma Qi Lu. “Era a
única que comia carne todos os dias do ano.” Segundo ele, para o resto
dos habitantes, comer carne era um privilégio que acontecia apenas uma
vez por ano. Depois de passar por exames apertados, conseguiu uma vaga
na Fundan University, em Xangai. “No início dos anos 80, só 3% dos
jovens que se formavam no ensino fundamental ingressavam na
universidade.”
A
vida de Qi Lu ganhou outro rumo quando ele foi assistir a uma
apresentação do professor Edmund M. Clarke, da universidade americana
Carnegie Mellon. Clarke ficou impressionado com as perguntas feitas pelo
jovem chinês e resolveu oferecer-lhe uma bolsa de estudos para Ph.D.
Clarke pagou a inscrição de US$ 45, equivalente a quatro salários e meio
de Qi Lu como professor universitário na China. Qi Lu passou no exame e
mudou-se para os Estados Unidos. Enquanto estudava, começou a trabalhar
na IBM, em 1996. Ajudou a desenvolver o Altavista, um dos primeiros
buscadores. Depois foi chamado para o Yahoo!. Dez anos depois, quando
saiu, liderava um time de 3 mil engenheiros, que o homenageou com uma
camiseta com as frases: “Eu trabalhei com Qi Lu. E você?”.
Mesmo
com todos os méritos de seu passado, incluindo a criação do Bing, a
vida de Qi Lu está longe de ser tranquila. O Bing ainda não passou de
12% de participação nas buscas. O Google tem mais que o dobro de todos
os concorrentes. Apesar de a Microsoft ter conseguido bons resultados
financeiros no último trimestre, a área de internet, chefiada por Qi Lu,
vem amargando prejuízos desde 2005. Qi Lu afirma que isso apenas mostra
que a Microsoft está investindo na criação da melhor tecnologia,
independentemente dos retornos financeiros. “O principal caminho para
ser o maior é ser o melhor”, diz. “O Bing representa para as buscas uma
evolução similar à que a TV em cores representou para a branco e preto.”
O executivo afirma que respeita muito o trabalho feito
até hoje pelo Google e reconhece que eles são os responsáveis pela base
do mercado de buscas como o conhecemos hoje. Mas diz que a estratégia da
Microsoft é oferecer ferramentas mais sofisticadas, que trabalhem
melhor com o conteúdo de vídeo, gráficos e sejam íntimas às redes
sociais. Para Qi Lu, os líderes em buscas dos próximos dez anos serão os
que adicionarem o componente social nas buscas. Como parte dessa
estratégia, a Microsoft mantém uma relação estreita com o Facebook, a
maior rede social do mundo, com mais de 500 milhões de usuários. E
também é um dos acionistas do Facebook (em 2007, investiu US$ 240
milhões no site). “Quando você toma uma decisão a partir de uma busca de
um produto ou de um serviço, ela é baseada em duas fontes: opiniões de
usuários em geral e a de especialistas”, afirma. “Agora suas buscas vão
consultar diretamente as pessoas que você conhece e confia.” Isso sem
sair da página inicial das buscas. O raciocínio faz sentido. Mas Qi Lu
tem de correr. Não apenas o Google investe em melhorar seu produto, mas o
próprio Facebook pode aplicar essas ideias antes dele.
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