Uma pesquisadora americana diz que as redes sociais tornaram os términos de relacionamentos ainda mais difíceis. Os brasileiros concordam.
Fernanda Colavitti
A enfermeira paulista Paula Bortolotti, de 28 anos, diz que demorou
quatro anos para terminar definitivamente um namoro em crise. As
diversas idas e vindas aconteciam porque ela não conseguia se
desconectar do ex na internet. Como os dois haviam apagado seus perfis
no Orkut durante o relacionamento para evitar brigas, a maneira que
Paula encontrou de bisbilhotar a vida do rapaz foi usar o perfil de uma
amiga dela para fuçar a página dos amigos dele. “Eu olhava o perfil dos
amigos mais próximos dele para procurar alguma coisa sobre ele”, diz. E
encontrava. Todos os indícios de paqueras e flertes eram devidamente
checados. A enfermeira ia tirar satisfações com o ex, os dois discutiam e
acabavam voltando. E ela continuava monitorando os passos do moço na
rede. O que reiniciava o ciclo. Ao contrário de Paula, o arquiteto
mineiro Bruno Ferreira, de 30 anos, apagou a ex-namorada de seus
contatos no Facebook assim que o namoro de dois anos terminou. “Eu não
queria saber nada sobre a vida dela para poder esquecê-la mais rápido”,
diz. Mas, como os dois tinham muitos amigos em comum na rede social,
isso não foi possível. “Eu sempre via um comentário ou uma foto dela nas
atualizações de algum amigo em comum.” Para evitar a tortura, Bruno
decidiu sair do Facebook.
Paula e Bruno são dois exemplos
de uma praga que acomete os términos de relacionamentos no século XXI: a
dor de cotovelo virtual. Com mais de 900 milhões de usuários em todo o
mundo – 35 milhões no Brasil –, todos ávidos por falar sobre sua
intimidade e vasculhar a dos outros, as redes sociais tornaram-se o
ambiente perfeito para a propagação dessa nova modalidade de fossa. Além
de manter os ex-pombinhos conectados virtualmente (por vontade própria
ou não), as redes sociais também se tornaram uma das principais maneiras
de comunicar ao mundo (em alguns casos, até ao parceiro) o fim de um
relacionamento. É o que mostra o recém-lançado livro Breakup 2.0 – Disconnecting over new media (Rompimento 2.0 – Desconectando-se através das novas mídias,
ainda sem tradução no Brasil), da antropóloga americana Ilana Gershon.
Durante quatro anos, a professora da Universidade Indiana entrevistou 72
universitários para investigar se os meios digitais influenciavam os
finais de relacionamentos. Descobriu que sim. “Rompimentos sempre foram
difíceis. As novas mídias tornaram esse processo ainda mais doloroso”,
disse Ilana a reportagem.
Antigamente,
bastava apagar o nome da pessoa da agenda e deixar de frequentar alguns
lugares para evitar o contato com o ex. Agora é preciso deletar o
indivíduo do Facebook, do Orkut, do Twitter etc. Isso se o ex-casal não
tiver contatos em comum nessas redes sociais. E, se esses amigos
compartilham – no caso do Twitter, retuitam – as informações de amigos
dos amigos, será preciso pedir gentilmente a eles que parem de repassar
as informações indesejadas. Ou apagá-los também. Para piorar, agora
também é preciso romper duas vezes. Mudar o status de “namorando” ou
“casado” para “solteiro” no Orkut e no Facebook tornou-se um momento tão
importante quanto o rompimento na vida real. “É o equivalente a
oficializar a separação”, diz Ilana.
Em suas pesquisas
sobre o uso das mídias sociais, a especialista em redes sociais Raquel
Recuero, professora da Universidade Católica de Pelotas, do Rio Grande
do Sul, descobriu que a primeira coisa que jovens e adolescentes fazem
ao terminar um relacionamento é atualizar o perfil nas redes sociais.
Muitos reformulam o perfil. E quem está fora da rede social entra após
um rompimento. “As pessoas veem as redes sociais como uma forma de
anunciar ao mundo que estão disponíveis. Ou não”, diz.
Para os ex-amantes
inconformados, as redes sociais podem ser um instrumento de tortura. “É
como tentar parar de fumar com uma porção de maços de cigarro espalhados
pela casa”, diz o psicólogo Ailton Amélio. A psicóloga Lidia Weber, da
Universidade Federal do Paraná diz que o término de um relacionamento
equivale a uma pequena tragédia, cujos efeitos no cérebro podem ser
comparados à abstinência de drogas. “Ceder ao impulso de espiar a vida
do ex prolonga esse sofrimento.” A recomendação dos especialistas
àqueles que desejam curar a dor de cotovelo virtual é resistir à
tentação de dar a primeira clicada. Paula diz que só assim conseguiu se
libertar do ex. “Percebi que, se não parasse de bisbilhotar a vida dele
na internet, eu nunca conseguiria sair da relação.” Os dois agora são
bons amigos... no Orkut.
Via: Época
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