Em abril de 1989 a Nintendo lançou no Japão o Game Boy, um aparelho
com uma pequena tela monocromática, um direcional e quatro botões que
seria o primeiro grande sucesso dos videogames portáteis. Mas antes do
Game Boy chegar ao mercado houve um outro detalhe: Gunpei Yokoi, o
criador do aparelho, acreditava que o sucesso do console dependia também
de um jogo que fosse irresistível e definisse o aparelho. A solução
veio da Consumer Electronics Show de 1988. Naquela edição da feira de
eletrônicos de Las Vegas foi exibido um jogo que depois foi parar nas
mãos de Minoru Arakawa, fundador e primeiro presidente da Nintendo, e de
lá para cada uma das primeiras milhões de embalagens de Game Boy:
Tetris. O Game Boy e o Game Boy Color, lançado em 1998 com uma tela
colorida, juntos venderam mais de 118 milhões de unidades. Pelo menos 35
milhões de pessoas têm a versão para Game Boy do Tetris. Um aplicativo
chamado Angry Birds pode puxar o sucesso de uma nova geração de consoles
portáteis que não são extamente consoles de games, mas um novo
concorrente.
O Playstation 2 é o console mais vendido da história até agora, e o sucesso do portátil Nintendo DS e do Nintendo Wii, atuais líderes do mercado de games, é imenso - mas o potencial de aparelhos com iOS e Android é muito grande, ainda mais com os tablets |
O Nintendo DS, console portátil da empresa japonesa que substituiu a linha Game Boy, foi lançado em 2004 e até o fim de 2010 mais de 144 milhões de unidades das várias versões do aparelho já haviam sido vendidas. A Sony já vendeu mais de 67 milhões de unidades do PSP, concorrente do DS lançado também em 2004. O mercado de games andava bem nos O Wii Sports é um dos jogos de maior sucesso da última década, mas - assim como o Super Mario Bros. do NES e o Tetris do Game Boy - o game foi empacotado com milhões de unidades de Wii. O Angry Birds é multiplataforma e possuiu versões grátis com publicidadeúltimos anos, principalmente se comparado aos outros dois gigantes da indústria do entretenimento - a música e o cinema, que lutam contra as mudanças causadas pela internet. Recentemente, a indústria de games viu o sucesso estrondoso do Nintendo Wii, console que abriu todo um mercado para jogadores casuais e introduziu um controle comandado por gestos. Microsoft e Sony, fabricantes dos outros dois grandes consoles disponíveis, o Xbox 360 e o Playstation 3, logo correram atrás e eliminaram de vez a necessidade de um controle físico com o Kinect e o Move. Entre o fim de 2010 e o começo de 2011, o Kinect, da Microsoft, se tornou o eletrônico vendido mais rapidamente da história, com 10 milhões de unidades em apenas quatro meses, e entrou para o Guinness Book batendo o iPhone e o iPad.
Não é só
aqui que os aparelhos da Apple aparecem nessa história. Smartphones e
tablets são os novos - e temíveis - concorrentes da indústria de
videogame, e enquanto videogames são um produto de certa forma de nicho -
para pessoas que querem um aparelho para jogar - tablets e smartphones
transformam aparelhos com outros usos em pontenciais plataformas para
jogos em forma de aplicativos. Já há no mundo quase 200 milhões de
aparelhos rodando os sistemas operacionais iOS, da Apple, ou Android, do
Google - e isso em pouquíssimo tempo. Os 120 milhões de aparelhos da
Apple que rodam o iOS começaram a ser vendidos em 2008, com o lançamento
da segunda geração do iPhone e do iPod Touch. Smartphones com Android
saíram de zero para 74 milhões entre 2009 e 2010. Não há sinais de que
esse crescimento vá diminuir, com novas opções de smartphones, tablets e
o iPad 2.
Um
aplicativo chamado Angry Birds parece ser o Tetris dessa nova geração
de consoles portáteis que são também celulares e computadores. Como o
Tetris, o Angry Birds é um jogo de quebra-cabeças, mas com uma pegada um
pouco surreal: o jogador usa um estilingue com pássaros como arma para
derrubar estruturas e matar os porcos que roubaram os ovos dos pássaros.
Lançado para iPhone em dezembro de 2009, o aplicativo está disponível
também para celulares com Android, webOS, alguns modelos da Nokia, PSP,
Playstation 3 e Windows e foi baixado mais de 100 milhões de vezes. Na
semana passada, a Rovio, empresa por trás do aplicativo, anunciou uma
rodada de financiamentos no total de US$ 42 milhões. Uma versão para
Facebook do joguinho deve ser lançada logo (para tentar ser um dos
primeiros a jogar você pode curtir esta página), o que coloca a empresa dentro de outra tendência na indústria: os jogos sociais.
Embora esteja presente nessas outras plataformas - como o Playstation
-, são os aparelhos móveis que transformaram o Angry Birds em um dos
jogos mais populares da história.
O Wii Sports é um dos jogos de maior sucesso da última década, mas - assim como o Super Mario Bros. do NES e o Tetris do Game Boy - o game foi empacotado com milhões de unidades de Wii. O Angry Birds é multiplataforma e possuiu versões grátis com publicidade |
“Eu acredito que o centro de gravidade [em jogos] realmente mudou e agora é claramente mobile”, disse no domingo
(13) Peter Vesterbacka, diretor-executivo da Rovio, a empresa
finlandesa por trás do Angry Birds. “É lá que está a maior parte da
inovação e a maior parte do crescimento.” Vesterbacka afirmou que
tablets estão matando os consoles tradicionais. “Nós vamos ver
provavelmente quatro gerações de tablets antes de um novo console, isso
se houver um novo console”, disse. O finlandês também atacou o modelo
tradicional de venda de jogos, em que um game custa entre US$ 40 e US$
50 e é difícil realizar uma atualização. Claro que esses jogos podem ser
muito mais lucrativos que o Angry Birds. O aplicativo da Rovio é
vendido por US$ 0,99 e possuiu uma versão grátis, com menos níves e com
publicidade. Na Finlândia, usuários de Android podem comprar itens
dentro do jogo, o que é uma outra forma de ganhar dinheiro -
popularizada pelo FarmVille no Facebook.
Quem não está
feliz com as perspectivas para o futuro do videogame dentro da indústria
do entretenimento é a Nintendo. Há tempos a empresa afirma que os jogos
de aplicativo podem ser divertidos, mas não se comparam à experiência
de jogos mais complexos. No começo do mês, Satoru Iwata, presidente da
Nintendo, afirmou que os smartphones
estão levando o mercado de videogames para uma tendência de jogos de
baixa qualidade e economicamente inviáveis. Jogos para o DS custam -
também por gastos em desenvolvimento e produção - muito mais do que apps
de celular (que muitas vezes são gratuitos). De acordo com Iwata,
empresas como a Nintendo, que desenvolvem hardware e software
especificamente para games, seriam melhores parceiras para
desenvolvedores do que fabricantes de celulares e redes sociais. “Para
eles, conteúdo é algo que é criado por outra pessoa. Quantidade é como
eles fazem dinheiro. A qualidade dos jogos de videogame não importa”,
disse Iwata.
Embora o que está ocorrendo com os videogames
possa ser comparado ao que ocorreu com a música por conta do mp3
[muitas opções baratas - algumas consideradas ilegais - contra uma
indústria que cobra muito mais caro por um produto similar ou igual], a
indústria dos jogos está numa posição diferente do que a da fonográfica.
A solução que os usuários estão buscando ainda é dentro do mercado, não
fora. Faz mais sentido para jogadores casuais aproveitarem games em
seus celulares ou tablets do que comprar um aparelho apenas para isso. O
mercado de games complexos em consoles de última geração é muito mais
específico para quem gosta desse tipo de experiência. Se as grandes
produtoras de jogos querem mais jogadores causais, elas podem até
aprender com os desenvolvedores independentes e investir no mercado de
tablets e smartphones, usando talvez até outras formas de ganhar
dinheiro.
Via: Época Tecnologia
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